Celebração da disciplina de Richard Foster

A superficialidade é maldição de nosso tempo. A doutrina da satisfação instantânea é, antes de tudo, um problema espiritual. A necessidade urgente hoje não é de um maior número de pessoas inteligentes, ou dotadas, mas de pessoas profundas.

As Disciplinas Espirituais são uma realidade interior e espiritual, e a atitude interior do coração é muito mais decisiva do que a mecânica para se chegar à realidade da vida espiritual.

Quando perdemos a esperança de obter a transformação interior mediante as forças humanas da vontade e da determinação, abrimo-nos para uma maravilhosa e nova realização: a justiça interior é um dom de Deus que deve ser graciosamente recebido. A imperiosa necessidade de mudança dentro de nós é obra de Deus e não nossa. É preciso que haja um trabalho real interno, e só Deus pode operar a partir do interior. Não podemos alcançar ou merecer esta justiça do reino de Deus; ela é uma graça concedida ao homem.

Deus nos deu as Disciplinas da vida espiritual como meios de receber sua graça.

Quando as Disciplinas se degeneram em lei, elas são usadas para manipular e controlar pessoas. Tomamos ordens explícitas e as usamos para aprisionar outros. O resultado de tal deterioração das Disciplinas Espirituais é orgulho e medo. O orgulho domina porque chegamos a crer que somos o tipo certo de pessoas. O medo domina porque o poder de controlar os outros traz consigo a ansiedade de perder o controle, e a ansiedade de ser controlado por outros.

Quando criamos uma lei, temos uma “exterioridade” pela qual podemos julgar quem está a altura e que não está. Quando verdadeiramente cremos que a transformação interior é obra de Deus e não nossa, podemos dar descanso a nossa paixão por endireitar a vida dos outros.

Todos pensam em mudar a humanidade e ninguém pensa em mudar a si mesmo.

Disciplina na meditacão

Há, também, os que acham que a ideia cristã da meditação é sinônima do conceito de meditação centrada na religião Oriental. Em realidade, trata-se de mundos separados. A meditação Oriental é uma tentativa para esvaziar a mente; a meditação cristã é uma tentativa para esvaziar a mente a fim de enchê-la. As duas ideias são radicalmente diferentes.

O afastamento da confusão toda que nos cerca é para que tenhamos uma união mais rica com Deus e com os seres humanos.

“Esperar em Deus não é ociosidade”, disse Bernardo de Clairvaux, mas trabalho maior que qualquer outro trabalho para quem não estiver habilitado.


Os seres humanos parece ter uma tendência perpétua de que alguém fale com Deus por eles. Contentamo-nos em receber a mensagem de segunda mão. No Sinai, o povo clamou a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êxodo 20.19).

Tal método poupa-nos a necessidade de mudar, pois estar na presença de Deus é mudar. Esta forma é muito conveniente porque ela nos dá a vantagem da respeitabilidade religiosa sem exigir transformação moral.

Se estivermos constantemente entusiasmados com atividade frenética, não poderemos estar atentos nos instantes de silêncio interior. Uma mente perseguida e fragmentada por assuntos externos dificilmente está preparada para a meditação.

Exercício de como fazer pg 24 a 29 – 5 tipos
A meditação não é um ato simples, nem pode ser completada da forma como se completa a construção de uma cadeira. É um modo de vida. Você estará constantemente aprendendo e crescendo à medida que penetra as profundezas interiores.

Disciplina da oração

A oração verdadeira cria e transforma a vida. “A oração secreta, fervorosa, de fé – jaz à raiz de toda piedade pessoal”, escreve William Carey.

Orar é mudar. A oração é a avenida central que Deus usa para transformar-nos.

Se não estivermos dispostos a mudar, abandonaremos a oração como característica perceptível de nossas vidas.

Os corredores ocasionais não entram subitamente numa maratona olímpica. Eles se preparam e treinam durante muito tempo, e o mesmo deveríamos nós fazer. Se observarmos tal progressão, podemos esperar orar com maior autoridade e êxito espiritual daqui a um ano.

Às vezes temos medo de não ter fé suficiente para orar por este filho ou por aquele casamento. Nossos temores deveriam ser sepultados, pois a Bíblia nos diz que os grandes milagres são possíveis pela fé do tamanho de um pequenino grão de mostarda. De modo geral, a coragem para orar a favor de uma pessoa é sinal de fé suficiente. Com frequência o que nos falta não é fé, mas compaixão.

Jesus, porém nos ensinou a dirigir-nos como crianças a um pai. Franqueza, honestidade e confiança marcam a comunicação do filho com o pai. Há certa intimidade entre pai e filho com espaço tanto para a seriedade como para a gargalhada. Meister Eckhart observou que “A alma produzirá a pessoa se Deus rir para ela e ela, em retribuição, rir para ele”.

 

Seu pastor e os cultos de adoração precisam ser banhados em oração. Paulo orava por seu povo; ele pedia ao povo que orasse por ele. C. H. Spurgeon atribuía seu êxito às orações de sua igreja. Frank Laubach dizia a seus auditórios: “Sou muito sensível e sei quando estais orando por mim. Se um de vós me desampara, eu o percebo. Quando orais por mim, sinto um estranho poder. Quando cada pessoa em uma congregação ora intensamente enquanto o pastor prega, acontece um milagre.” Sature os cultos de adoração com suas orações. Visualize o Senhor no alto e sublime, enchendo o santuário com a sua presença.

 

Nossos músculos de oração precisam ser flexionados um pouco, e uma vez iniciada a corrente sanguínea da intercessão, descobriremos que estamos dispostos a orar.

 

Não se trata de orar e depois trabalhar, mas oração simultânea com o trabalho.

Precedemos, envolvemos e acompanhamos todo o nosso trabalho com oração. Oração e ação tornam-se inseparáveis.

 

Disciplina do jejum

Muitos dos grandes cristãos através da história da igreja jejuaram e deram seu testemunho sobre o valor do jejum; entre eles estavam Martinho Lutero, João Calvino, John Knox, João Wesley, Jonathan Edwards, David Brainerd, Charles Finney e o Pastor Hsi, da China.

 

É preciso sublinhar que o jejum absoluto é a exceção e nunca deveria ser praticado, a menos que a pessoa tenha uma ordem muita clara de Deus, e por não mais do que três dias.

 

Na maioria dos casos, o jejum é um assunto privado entre o indivíduo e Deus.

Em vários aspectos, seu estômago é como uma criança mimada, e as crianças mimadas não precisam de indulgência, precisam de disciplina. Martinho Lutero disse: “… a carne estava habituada a resmungar horrivelmente.” Você não deve ceder a este resmungo.

 

O propósito das Disciplinas Espirituais é a total transformação da pessoa. Elas visam a substituir os velhos e destruidores hábitos de pensamento por novos hábitos vivificadores. Em parte alguma este propósito é visto mais claramente do que na Disciplina do estudo. O apóstolo Paulo diz que o modo de sermos transformados é mediante a renovação da mente (Romanos 12:2).

 

Disciplina do estudo

No estudo há dois “livros” a serem estudados: verbal e não verbal. Livros e preleções constituem, portanto, apenas metade do campo de estudo, talvez menos.

 

O mundo da natureza e, muitíssimo importante, a observação cuidadosa dos acontecimentos e das ações são os campos básicos do estudo não verbal.

 

Passos da disciplina do estudo: repetição, concentração, compreensão e reflexão, determinando seu significado.

Na reflexão chegamos a entender, não somente a matéria de nosso estudo, mas a nós mesmos. Jesus falou muitas vezes dos ouvidos que não ouvem e dos olhos que não veem.

 

No começo, necessitar de três leituras separadas, mas com o tempo elas podem ser feitas simultaneamente. A primeira leitura envolve entender o livro: o que é que o autor está dizendo? A segunda leitura envolve interpretar o livro: o que é que o autor quer dizer? A terceira leitura envolve avaliar o livro: está o autor certo ou errado? A tendência de muitos de nós é no sentido de fazer a terceira leitura e frequentemente nunca fazer a primeira e a segunda. Fazemos uma análise crítica de um livro antes de entendermos o que ele diz. Julgamos um livro certo ou errado antes de interpretarmos seu significado.

 

Quando vamos à Escritura vamos para ser transformados, não para acumular informações.

Devemos entender, porém, que existe uma vasta diferença entre o estudo bíblico e a leitura devocional da Bíblia. No estudo bíblico dá-se alta prioridade à interpretação: o que significa. Na leitura devocional, dá-se alta prioridade à aplicação: o que significa para mim. No estudo, não buscamos êxtase espiritual; com efeito, o êxtase pode ser um obstáculo. Quando estudamos um livro da Bíblia, buscamos ser controlados pela intenção do autor. Resolvemos ouvir o que ele diz, e não o que gostaríamos que ele dissesse.

 

Por isso, o primeiro passo no estudo da natureza é a observação reverente. “Ame toda a criação de Deus, o todo e cada grão de areia que nela há. Ame cada folha, cada raio de luz de Deus. Ame os animais, ame as plantas, ame tudo. Se você amar tudo, perceberá o mistério divino nas coisas. Percebido o mistério, você poderá compreendê-lo melhor cada dia.”

 

Disciplina da simplicidade

Pelo fato de faltar-nos um Centro divino, nossa necessidade de segurança tem-nos induzido a um apego insano às coisas. Devemos entender com clareza que o ardente desejo de abundância na sociedade contemporânea é de natureza psicótica. É psicótica porque perdeu por completo o contato com a realidade. Ansiamos possuir coisas de que não necessitamos nem desfrutamos. “Compramos coisas que realmente não desejamos para impressionar pessoas das quais não gostamos”

 

Como Jesus deixou muito claro em nosso texto central, estar livre de ansiedade é uma das provas interiores de que estamos buscando o reino de Deus em primeiro lugar. A realidade interior da simplicidade envolve uma vida de alegre despreocupação com os bens materiais. Nem o ganancioso nem o avarento conhecem essa liberdade. Ela não tem nada que ver com a abundância ou com a falta de posses. É uma atitude interior de confiança. O simples fato de uma pessoa viver sem a posse de bens materiais não é garantia alguma de que esteja vivendo em simplicidade.

 

Quando somos tentados a pensar que aquilo que possuímos resulta de nossos esforços pessoais, basta uma pequena seca ou um pequeno acidente para mostrar-nos uma vez mais quão radicalmente dependemos em tudo.

Saber que é negócio de Deus, e não nosso, cuidar do que temos é a segunda atitude interior da simplicidade. Deus pode proteger o que possuímos. Podemos confiar nele. Significa isso que nunca deveríamos tirar a chave do carro ou fechar a porta? Claro que não. Mas sabemos que a fechadura da porta não é o que protege a casa. É apenas bom senso tomar precauções normais, mas se cremos que é a precaução que nos protege e a nossos bens, estaremos crivados de ansiedade.

 

Nossas crianças não precisam ser entretidas por bonecas que choram, que comem, que urinam, suam e cospem. Uma velha boneca de trapo pode dar mais alegria e durar muito mais. Muitas vezes as crianças encontram maior alegria em brincar com panelas e bules velhos do que com o último aparelho espacial. Procure brinquedos educativos e duráveis. Faça você mesmo alguns.

 

Muitas coisas na vida podem ser desfrutadas sem que as possuamos ou controlemos. Partilhe das coisas. Aproveite a praia sem achar que você tem que comprar um pedaço dela. Aproveite as bibliotecas e os parques públicos.

 

Rejeite qualquer coisa que o esteja viciando. Aprenda a distinguir entre a verdadeira necessidade psicológica, como ambientes alegres e o vício qualquer. Qualquer dos meios de comunicação que você acha não poder viver sem eles: rádios, estéreos, revistas, filmes, jornais, livros – trate de livrar-se deles. Simplicidade é liberdade, não escravidão.

 

Que Deus nos dê sempre coragem, sabedoria e força para manter como prioridade, número um de nossas vidas o “buscar em primeiro lugar o seu reino e a as justiça”, entendendo tudo o que isso implica. Fazer isto é viver em simplicidade.

 

Disciplina da solitude

Solidão ou o barulho não são nossas únicas alternativas. Podemos cultivar uma solitude em silêncio interiores que nos livram da solidão e do medo. Solidão é vazio interior. Solitude é realização interior. Solitude não é, antes de tudo, um lugar, mas um estado da mente e do coração.

 

Há uma solitude do coração que pode ser mantida em todas as ocasiões. As multidões, ou a sua ausência, têm pouco que ver com este estado atentivo interior. É perfeitamente possível ser um eremita e viver no deserto e nunca experimentar a solitude. Mas se possuirmos solitude interior nunca teremos medo de ficar sozinhos, pois sabemos que não estamos sós. Nem tememos estar com outros, pois eles não nos controlam. Em meio ao ruído e confusão encontramos calma num profundo silêncio interior.

 

A solitude interior há de manifestar-se exteriormente. Haverá a liberdade de estar sozinhos, não para nos afastarmos das pessoas, mas para poder ouvi-las melhor. Jesus viveu em “solitude do coração” interior. Também frequentemente experimentou solitude exterior.

 

Um motivo de quase não aguentarmos permanecer em silêncio é que ele nos faz sentir tão desamparados. Estamos demais acostumados a depender das palavras para manobrar e controlar os outros. Se estivermos em silêncio, quem assumirá o controle? Deus fará isto; mas nunca deixaremos que ele assuma o controle enquanto não confiarmos nele. O silêncio está intimamente relacionado com a confiança.

Fique  até  tarde  no  escritório,  faça-o  em  casa,  ou  procure  um  canto sossegado em uma biblioteca pública. Reavalie suas metas e objetivos. Que é que  você  deseja  ver  realizado  daqui  a  um  ano?  No sossego  dessas  breves  horas,  ouça  o trovão  do  silêncio  de Deus.

 

À semelhança de Jesus, devem os afastar-nos das  pessoas  de  modo  que  possamos  estar  verdadeiramente presentes quando estivermos com elas.

 

Disciplina da submissão

Nada pode escravizar tanto as pessoas como na religião tem feito mais para manipular e destruir as pessoas do que um ensino deficiente sobre a submissão.

 

As Disciplinas não têm, em si mesmas, nenhum valor. Elas só têm valor como meio de colocar-nos diante de Deus de sorte que ele possa dar-nos a libertação que buscamos. A libertação é o alvo; as Disciplinas são meramente os  meios.  Elas  não  são  a  resposta;  apenas  nos  conduzem  à  Resposta.

 

Devemos  entender  com  clareza  esta  limitação  das  Disciplinas  se  quisermos evitar a escravidão. Não só devemos entendê-la, mas precisamos sublinhá-la para nós mesmos repetidas vezes, tão grave é nossa tentação de concentrar-nos nas Disciplinas.

 

Concentremo-nos  sempre  e  Cristo  e  consideremos  as  Disciplinas Espirituais como um meio de aproximar-nos mais do coração do Mestre.

 

Liberdade da submissão: A obsessão de exigir  que  as  coisas  marchem  de  acordo  com  a  nossa  vontade  é  uma  das maiores  escravidões  da  sociedade  humana  hodierna.  As  pessoas  passam semanas, meses, até mesmo  anos em perpétua agonia porque alguma coisinha não lhes saiu como desejavam. Elas queixam-se e se revoltam. Ficam furiosas e  agem  como  se  sua  própria  vida  dependesse  disso.  Podem  até  adquirir úlceras por causa da situação.

 

Pouco importa que nossos planos se frustrem, se os delas têm êxito. Descobrimos que é muito melhor servir ao próximo do que fazer como bem entendemos.

Nossa felicidade não depende de conseguir o que desejamos.

 

Autonegação não significa a perda de nossa identidade, como pensam alguns.  Sem  identidade  não  poderíamos  nem  mesmo  sujeitar -nos  uns  aos outros.

O amor-próprio e a autonegação não estão em conflito. Jesus deixou  perfeitamente  claro,  mais  de  uma  vez,  que  a  autonegação  é  o  único meio seguro de amar-nos a nós mesmos.  “Quem acha a sua vida, perdê-la-á”(Mateus 10:39)

 

A  autonegação  é  a  pedra  de toque da Disciplina da submissão. A vida de cruz é a vida de submissão voluntária. A vida de cruz é a vida de servo livremente aceita.

 

O primeiro ato de submissão é ao Deus Trino e Uno. No começo do dia esperamos diante do Pai, do Filho e do Espírito Santo, calmos e submissos. As primeiras palavras de nosso dia formam a oração de Thomasde Kempis: “Como quiseres; o que quiseres; quando quiseres.” Submetemos

o corpo, mente e espírito para propósitos divinos. Semelhantemente, o dia é vivido em atos de submissão entremeados de constantes demonstrações de submissão interior.

 

O segundo ato de submissão é à Bíblia. Como nos submetemos à Palavra de Deus viva (Jesus), assim nos submetemos à Palavra de Deus escrita (a Bíblia).Rendemo-nos primeiro para ouvir a Palavra; em segundo lugar para receber a Palavra, e em terceiro lugar para obedecer à Palavra. Buscamos o Espírito, que inspirou as Escrituras, para interpretá-las e aplicá-las à nossa condição. A palavra da Escritura, vivificada pelo Espírito Santo, vive conosco durante dia.

 

O ato de submissão é ao mundo. Vivemos numa comunidade internacional interdependente. Não podemos viver em isolamento. Nossa responsabilidade ambiental, ou sua ausência, afeta não somente as pessoas ao redor do mundo mas também as gerações que estão por nascer. As nações que padecem fome afetam-nos. Nosso ato de submissão é uma determinação de viver como membro responsável de um mundo cada vez mais irresponsável.

 

Disciplina do serviço

Um grupo de pessoas não é capaz de estar junto por muito tempo até que fique claramente estabelecida a “ordem de importância”. Podemos vê-lo facilmente em situações tais como onde as pessoas se assentam, como caminham em relação uns com os outros, quem sempre cede quando duas pessoas falam ao mesmo tempo, quem fica atrás quando determinado trabalho precisa ser feito e quem se prontifica a fazê-lo. (Dependendo do trabalho, pode ser um símbolo de senhorio ou um símbolo de servidão.) Essas coisas estão estampadas no rosto da sociedade humana.

 

Mas a autoridade da qual Jesus falou não é aquela em que o indivíduo atribui importância a si mesmo. Devemos entender com clareza a natureza radical do que Jesus ensinou sobre este assunto. Ele não estava simplesmente invertendo a “ordem de importância”, como muitos supõem. Ele a estava abolindo. A autoridade da qual ele falou não era uma autoridade para manipular e controlar. Era uma autoridade de função, não de status.

 

Serviço e Humildade

Mais do que qualquer outro meio, a graça da humildade é produzida em nossas vidas pela Disciplina do serviço. A humildade, como todos sabemos, é uma daquelas virtudes que nunca são ganhas por buscá-las. Quanto mais a buscamos, mais distante ela fica. Pensar que a temos é prova segura de que não a possuímos. Portanto, muitos de nós supomos que nada podemos fazer para ganhar esta honrada virtude cristã, e assim nos acomodamos.

 

Mas existe algo que podemos fazer. Não é preciso atravessarmos a vida esperando que algum dia a humildade caia sobre nós. De todas as Disciplinas Espirituais clássicas, o serviço é a mais conducente ao crescimento da humildade. Ocorre uma profunda mudança em nosso espírito quando iniciamos um curso de ação, conscientemente escolhido, que acentua o bem dos outros e em sua maior parte é um trabalho oculto. Como faremos de cada dia um dia de humildade?

 

Aprendendo a servir aos outros. Law entendia que a Disciplina do serviço é que traz humildade à vida.

Quão necessário é este se desejamos ser salvos de calúnia e mexericos. O apóstolo Paulo ensinou-nos a não difamar a ninguém (Tito 3:2). Podemos revestir nossa calúnia com toda a solenidade religiosa que desejarmos, mas ela permanecerá como veneno mortífero. Há uma disciplina em refrear a língua que pode operar maravilhas em nosso íntimo. Os indivíduos que, por orgulho, se recusam a ser servidos, falham em submeter-se à liderança divinamente indicada no reino de Deus.

Hospedaria

Lembro-me de uma ocasião em que a hospedeira corria apressada de um lado para outro cuidando disto e daquilo, desejando sinceramente fazer com que todos se sentissem à vontade. Um amigo meu surpreendeu-nos a todos (e pôs todo o mundo à vontade), dizendo: “Helen, não quero café, não quero chá, não quero bolachas, não quero guardanapo, só quero conversar. Venha assentar-se e conversar conosco!” Apenas uma oportunidade de estar juntos e trocar experiências – isto é a essência da hospitalidade.

 

Há o serviço de ouvir. “O primeiro serviço que se presta a outros na comunidade consiste em ouvi-los. Assim como amar a Deus começa com ouvir a sua Palavra, assim o começo do amor aos irmãos está no aprender a ouvi-los.” Necessitamos com urgência da ajuda que pode resultar do ouvir uns aos outros. Não precisamos ser psicanalistas experientes para ser ouvintes preparados. As exigências mais importantes são compaixão e paciência.

 

Ouvir aos outros acalma e disciplina a mente para ouvir a Deus. Cria uma obra interior no coração que transforma as afeições da vida, e até mesmo nossas prioridades. Quando nos tornamos obtusos à voz de Deus, seria bom ouvir os outros em silêncio e ver se não é Deus que nos fala. “Aquele que pensa que seu tempo é valioso demais para gastá-lo em silêncio, finalmente não terá tempo algum para Deus e para o próximo, mas só para si mesmo e para suas loucuras.”

 

Disciplina da confissão pg 117

Realiza uma mudança objetiva em nosso relacionamento com Deus e uma mudança subjetiva em nós. É um meio de curar e transformar a disposição interior.

 

Achamos a confissão uma Disciplina tão difícil em parte porque vivemos a comunidade dos crentes com uma comunhão de santos antes de vê-la como uma comunhão de pecadores. Chegamos a sentir que todos os outros progrediram tanto em santidade que nos encontramos isolados e sozinhos em nosso pecado. Não suportaríamos revelar nossas falhas e deficiências aos outros. Imaginamos que somos os únicos que não puseram os pés na estrada do céu. Portanto, escondemo-nos uns dos outros e vivemos em mentiras veladas e em hipocrisia.

 

Se, porém, sabemos que o povo de Deus é, antes de tudo, uma comunhão de pecadores, estamos livres para ouvir o incondicional chamado de amor de Deus e confessar nossa necessidade abertamente diante dos irmãos e irmãs. Sabemos que não estamos sozinhos em nosso pecado. O medo e o orgulho que se apegam a nós como cracas, apegam-se aos outros também. Somos pecadores juntos. Em atos de confissão mútua, liberamos o poder que cura. Nossa condição humana já não é negada mas transformada.

 

Na Disciplina da confissão pedimos a Deus que nos dê um ardente desejo de viver santamente, e um ódio pela vida ímpia. João Wesley disse certa vez: “Dai-me cem pregadores que nada temem senão o pecado e nada desejam senão Deus… e com apenas esses abalarei as portas do inferno e estabelecerei o reino do céu na terra.” Buscamos de Deus a vontade de ser libertos do pecado quando nos preparamos para fazer confissão.

 

A confissão começa em tristeza mas termina em alegria. Há celebração do perdão de pecados porque ele resulta numa vida autenticamente transformada.

 

Finalmente, é de extrema importância que você ore pela pessoa e não apenas lhe dê conselhos. Antes da oração, ou durante ela, deveríamos anunciar à pessoa que o perdão em Jesus Cristo é agora real e eficaz para ela. Podemos dizê-lo em palavras e tons de autêntica autoridade, pois temos todoo céu em apoio de absolvição (João 20:22, 23).

 

A oração visa à cura das feridas internas causadas pelo pecado. O melhor é acompanhar a oração com a “imposição de mãos”, que é um ensino elementar da Bíblia e constitui um meio pelo qual Deus comunica seu poder vivificador (Hebreus 6:2). Peça a Deus que flua para a mente interior profunda e cure as mágoas passadas. Imagine a cura. Dê graças a Deus por ela.

 

A Disciplina da confissão põe termo ao fingimento. Deus está chamando à existência uma igreja que possa confessar abertamente sua frágil condição humana; uma igreja que conhece não só a graça perdoadora de Cristo mas também a graça de Cristo que lhe dá autoridade. A honestidade conduz à confissão, e a confissão conduz à mudança. Possa Deus conceder à igreja, mais uma vez, a graça de recobrar a Disciplina da confissão.

 

Disciplina da adoração pg 127

Adoração é nossa resposta às aberturas de amor do coração do pai. Sua realidade central encontra-se “um espírito e em verdade”. Ela acende-se dentro de nós somente quando o Espírito de Deus toca nosso espírito humano. Fórmulas e rituais não produzem adoração, nem o faz o seu desuso formal. Podemos usar todas as técnicas e métodos certos, podemos ter a melhor liturgia possível, mas não temos adorado o Senhor até que o Espírito toque o espírito.

 

Cantar, orar, louvar, tudo isso pode conduzir à adoração, mas adoração é mais do que qualquer desses atos. É preciso que nosso espírito seja inflamado pelo fogo divino.

 

Adoramos o Senhor não só por ser ele quem é mas também pelo que ele tem feito.

Acima de tudo, o Deus da Bíblia é o Deus que age. Sua bondade, fidelidade, justiça, misericórdia pode ser vistas em seus tratos com seu povo. Suas ações graciosas estão não apenas impressas na história antiga, mas estão gravadas em nossas histórias pessoais. Conforme disse o apóstolo Paulo, a única resposta racional é a adoração (Romanos 12:1). Louvamos a Deus por quem ele é, damos-lhe graças pelo que ele tem feito.

 

A Prioridade da Adoração

Se o Senhor há de ser Senhor, a adoração deve ter prioridade em nossa vida. O primeiro mandamento de Jesus é: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:30). A prioridade divina é, em primeiro lugar, adoração; em segundo lugar, serviço. Nossa vida deve ser pontilhada de louvor, ações de graça e adoração. O serviço flui da adoração. O serviço como substituto da adoração é idolatria. A atividade pode tornar-se a inimiga da adoração. Uma grave tentação que todos enfrentam é procurar responder a chamados de serviço sem servir ao próprio Senhor.

 

Visto como não se pode imaginar a vida humana sem cabeça, braços e pernas, assim não podiam pensar aqueles cristãos em viver isoladamente uns dos outros.

 

Quando verdadeiramente nos congregamos em adoração, ocorrem fatos que nunca ocorreriam fora do grupo. Há a psicologia do grupo e não obstante é muito mais, é interpenetração divina. Há o que os escritores bíblicos chamaram koinonia, profunda comunhão interior no poder do Espírito.

 

A pregação sem a unção divina cairá como água gelada sobre a adoração. A pregação que vem do coração inflama o espírito de adoração; a pregação que vem do intelecto apaga as brasas acesas.

 

Nada há mais vivificador do eu do que a pregação inspirada pelo Espírito; nada mais mortal do que a pregação vinda de inspiração humana. A pregação sem a unção divina cairá como água gelada sobre a adoração. A pregação que vem do coração inflama o espírito de adoração; a pregação que vem do intelecto apaga as brasas acesas

Acordamos de manhã e ficamos na cama silenciosamente louvando e adorando a Senhor. Dizemos-lhe que desejamos viver sob sua liderança e governo. 

 

Dirigindo nosso carro para o trabalho, perguntamos a nosso Mestre: “Como vamos indo?” Imediatamente nosso Mentor relampeja diante de nossa mente a observação cáustica que fizemos ao nosso cônjuge à hora do café, a demonstração de desinteresse revelada a nossos filhos ao sairmos de casa. Reconhecemos que temos vivido na carne. Há confissão, restauração e uma nova humildade.

 

Muitas  vezes  nosso  “temperamento  reservado”  é  pouco  mais  do  que receio do que os outros pensem de nós, ou talvez indisposição  para humilhar nos  perante  Deus  e  os  outros.  É  claro  que  as  pessoas  têm  temperamentos diferentes, mas isto nunca deve impedir-nos de adorar com todo o nosso ser.

 

Disciplina da orientação pg 138

Deus guia, de fato, o indivíduo rica e profundamente, mas também ele guia grupos de pessoas e pode instruir o indivíduo mediante a experiência do grupo.

 

Faríamos bem em incentivar grupos de pessoas dispostas a jejuar, orar e adorar juntas até que tenham discernido a mente do Senhor e tenham ouvido seu chamado.

 

Presbíteros e apóstolos indicados reuniram-se no poder do Senhor, não para conquistar posição ou para jogar um lado contra o outro, mas para ouvir a mente do Espírito. A tarefa não era nada pequena.  Houve intenso debate. Então, num belo exemplo de como a orientação individual se relaciona com a orientação associativa, Pedro contou sua experiência com o centurião romano Cornélio.

 

Sem  dúvida,  essas  experiências  de  discernir  a  vontade  de  Deus  em comunidade contribuíram em grande parte para que Paulo visse a igreja como o  corpo  de  Cristo.  Ele  percebeu  que  os  dons  do Espírito  eram  concedidos pelo  Espírito  ao  corpo  de  tal  forma  que  estava  assegurada  a  unidade. Ninguém  possuía  coisa  alguma.  Mesmo  os  mais  maduros  necessitavam  da ajuda dos outros. Os mais insignificantes tinham algo a contribuir. Ninguém podia ouvir todo o conselho de Deus em isolamento.

 

Quando  um  membro  sente  que  Deus  o levou  a  estabelecer  determinado  grupo  de  missão  ou  a  aventurar-se  em determinada  área  de  serviço,  eles  “sondam  o  chamado”.  Isto  se  faz  ao término  de  um  culto  de  adoração  e  o  indivíduo  fala  da  visão  que  sente.

 

Depois disso, todos os que quiserem são bem-vindos à reunião com a  pessoa para “examinar o chamado”. Juntos eles investigam o caso, orando, fazendo perguntas, pesquisando. Às  vezes  há  um  senso  de  que  a  ideia  foi  produto  de  falso  entusiasmo  e  é abandonada. Doutras  vezes,  confirma-se  a  ideia  pelas  orações  e  pela  interação  do grupo.

 

É possível que as decisões  de negócios sejam tomadas sob um senso da direção associada do Espírito Santo. Decisões matrimoniais também.

 

O Diretor Espiritual

Na  Idade  Média,  nem  mesmo  os  maiores  santos  tentaram  as profundezas  da  jornada  interior  sem  a  ajuda  de  um  diretor  espiritual.  Hoje mal  se  entende  o  conceito,  nem  é  praticado.  Isto  é  uma  tragédia,  porque  a ideia do diretor espiritual é altamente aplicável ao   cenário contemporâneo. É uma bela expressão da orientação divina mediante a ajuda de nossos irmãos e irmãs.

 

Qual é a finalidade de um diretor espiritual? Ele é um instrumento de Deus para abrir o caminho ao ensino interior do Espírito Santo. Não  se  trata  de  um  superior  ou  de  alguma autoridade nomeada pela igreja. O relacionamento é o de um conselheiro com um amigo.

 

Embora o diretor tenha, obviamente, progredido mais nas profundezas interiores, os dois estão juntos, aprendendo e crescendo no reino do Espírito. Elas podem absorver o egoísmo, a mediocridade e a apatia que as cercam e transformar tudo. Não são julgadoras e são inabaláveis.

 

Trazendo  nosso problema perante Deus e descansando-o nele, esperamos pacientemente que Deus manifeste sua vontade. Caso ele nos convide a falar com alguém ou a fazer  determinados  arranjos,  obedecemos  alegremente.  Se  tivermos  a humildade  de  crer  que  podemos  aprender  de  nossos  irmãos  e  irmãs,  e entendermos  que  alguns  se  aprofundaram  mais  no  Centro  divino  do  que outros, poderemos ver a necessidade da direção espiritual. Como disse Virgil Vogt, da Reba Place Fellowship:  “Se você não pode ouvir a seu irmão, não pode ouvir ao Espírito Santo.”

 

Ao refletir sobre o valor deste ministério, Thomas Merton disse que o diretor espiritual tinha algo de  “um pai espiritual que  “gerou”  a  vida perfeita na  alma  de  seu  discípulo,  antes  de  tudo  mediante  suas  instruções,  mas também por sua oração, sua santidade e seu exemplo”.

 

Se a orientação associada não for tratada dentro do contexto  maior  de  uma  graça  que  a  tudo  envolve,  ela  degenera  num  meio eficaz de endireitar o comportamento desviado. Torna-se um tipo de fórmula quase-mágica  através  da  qual  o  grupo  pode  impor  sua  vontade  sobre  o indivíduo, um  “sistema papal”  por meio do qual todas as opiniões divergentes podem ser postas em linha.

 

Outro perigo está em que a orientação associada venha a apartar-se das normas  bíblicas.  A  Escritura  deve  envolver  e  penetrar  nosso  pensamento  e ação.  O  Espírito  nunca  conduzirá  em  oposição  à  Palavra  escrita  que  ele inspirou. Deve sempre haver a autoridade exterior da Escritura bem como a autoridade  interior  do Espírito  Santo.  Em  realidade,  a  própria  Bíblia  é  uma forma de orientação associada. Ela é um meio pelo qual Deus fala através da experiência do povo de Deus. Ela é um aspecto da “comunhão dos santos”.

 

Disciplina da celebração pg 150

No Antigo Testamento, todas as estipulações sociais do ano de Jubileu –  cancelamento das dívidas, libertação dos escravos, nenhum plantio agrícola, devolução da propriedade ao seu possuidor original  –  eram uma celebração da graciosa provisão de Deus. Poder-se-ia confiar em Deus: ele proveria o que fosse necessário. Ele havia declarado:  “Então eu vos darei a minha benção”(Levítico  25:21).  A  liberdade  da  ansiedade  e  dos  cuidados  forma  a  base  da celebração. Visto como sabemos que ele cuida de nós, podemos lançar sobre ele os nossos cuidados. Deus transformou nosso pranto em júbilo.

 

A  celebração  é  central  a  todas  as  Disciplinas  Espirituais.  Sem  um espírito  jubiloso  de  festividade,  as  Disciplinas  se  tornam  entorpecidas, instrumentos  que  respiram  morte  nas  mãos  dos  fariseus  modernos.  Toda Disciplina deve caracterizar-se pela alegria isenta de cuidados e pelo senso de ações de graça.

A alegria é  um dos frutos do Espírito (Gálatas 5:22). Frequentemente me  inclino  a  pensar  que  a  alegria  é  o motor,  o  elemento  que  mantém tudo mais em marcha.

 

Sem  a  celebração  jubilosa  para  inspirar  as  outras  Disciplinas,  cedo  ou tarde as abandonaremos. A alegria produz energia. A alegria faz -nos fortes. O antigo Israel foi instruído a reunir-se três vezes por ano para celebrar a bondade de Deus. Essas celebrações  era as experiências que davam força e coesão ao povo de Israel.

 

Quando os membros de uma família estão cheios de amor, de compaixão e de um espírito de serviço, uns pelos outros, tal família tem motivos para celebrar.

 

Há  algo  de  triste  na  corrida  de  alguns,  de  igreja  em  igreja,  tentando conseguir uma injeção da  “alegria do Senhor”. A alegria não se encontra em cantar determinado tipo de música, ou viver com o tipo certo de grupo, ou mesmo  em  exercer  os  dons  carismáticos  do  Espírito,  por  muito  bom  que tudo  isso  possa  ser.  A  alegria  está  na  obediência. Quando o  poder  de  Jesus entra em nosso trabalho e lazer e os redime, haverá alegria onde outrora havia lamento.

 

Não haverá em nós o espírito de celebração enquanto não aprendermos a  “não  andar  ansiosos  de  coisa  alguma”.  E  nunca  teremos  uma  indiferença isenta de cuidado pelas coisas enquanto não confiarmos totalmente em Deus. Por  isso  é  que  o  Jubileu  era  uma  celebração  tão  decisiva  no  Antigo Testamento. Ninguém  ousaria  celebrar  o  Jubileu  a  não  ser  que  tivesse  uma profunda confiança na capacidade de Deus de prover para suas necessidades.

 

Se  pensarmos  que  teremos  alegria  apenas  orando  e  cantando  salmos, ficaremos  desiludidos.  Mas  se  enchermos  nossa  vida  com  coisas  boas  e simples,  e  constantemente  dermos  graças  a  Deus  por  elas,  conheceremos  a alegria.