Não nasci para ser professora

Quando criança, eu brincava sozinha, assim eu não precisava convencer ninguém de brincar do meu jeito ou ser convencida, dava menos trabalho. No meu imaginário, eu era a coordenadora, entrava na sala de aula, perguntava para a professora como as coisas estavam e conversava com os alunos que não estavam obedecendo. Naquela época eu não queria ser professora porque via o quanto essa profissão exercia dedicação, amor e muita paciência, e eu ouvia que pagava mal, aí que eu não queria mesmo…


Bem, no ensino médio eu tive oportunidade de fazer um voluntariado na Associação Pestalozzi, que trabalha com adultos especiais, nós íamos todas as sextas-feiras, eu ia animada e saía satisfeita de ter feito parte daqueles processos de aprendizagem, mas os pensamentos não me deixavam “Professor trabalha muito, ninguém valoriza e ainda ganha pouco”.

 

Comecei a trabalhar com 16 anos, eu pai me pedia para panfletar, atender pessoas, dei aulas particulares e para turmas maiores, fui me desenvolvendo. Ter experiências profissionais quando jovem é uma das melhores escolhas, pois cada oportunidade ajudará no seu crescimento.

 

Quando tive que escolher o curso para fazer a prova da Universidade, eu tinha todas as dúvidas do mundo, pensei em Administração que era bem legal, Psicologia porque era bem visto, Educação Física que eu cuidaria da saúde, mas me tornaria professora também… Bem, eu sabia que eu não era a aluna mais inteligente do Brasil, então, era mais fácil escolher um curso com a nota de corte que não fosse alta e que eu gostasse, mesmo com minhas questões internas, e por isso, decidi pela Pedagogia e não contar para ninguém minha escolha, porque sabia que ouviria comentários que iriam me desmotivar.

Passei, foi uma festa, me sujaram horrores, parecia que eu tinha passado para Medicina. Todos descobriram o curso apenas nesse dia, fizeram uma cara um pouco surpresa, mas parabenizaram.

Logo no início da graduação, tive oportunidade de começar a dar aulas particulares, isso me ajudou a colocar em prática o que eu aprendia, além de conhecer melhor as crianças, suas necessidades e até suas artimanhas de tentativas de fuga dos estudos ou apenas de tentar enrolar o professor. Dica: não subestime uma criança.

 

Ao longo dos 4 anos de graduação, aprendi mais sobre a vida do que de fato sobre como ensinar, aprendi que as escolas não são perfeitas e que nossos métodos têm muito o que melhorar, mas que é uma jornada de aprendizado diário, eles conosco e nós com eles, nossos alunos.

 

Tive experiência em uma excelente escola particular da Asa Norte, fiz ótimas amizades, senti a pressão da larga demissão ao final do ano, fiquei um ano lá e tive o desprazer de ter que ouvir de uma mãe que eu havia batido na filha, claro que era mentira, a verdade é que a criança tinha fugido da sala, e estava andando pela escola, fui buscá-la e a achei para voltar para a sala, ela não ficou muito feliz ao ter limites. A mãe dela me abordou no meio do corredor e gritou:

– Você bateu na minha filha!

Eu assustei, mas questionei de onde ela tinha tirado isso, enfim, discutimos, ela acreditando na mentira da filha e eu tentando manter minha dignidade.

 

Todos viram, e eu disse que ela teria que provar o que ela falou, no final, eu entrei no banheiro tendo certeza que seria demitida por não ter abaixado a cabeça, mas achei um desrespeito como ela me abordou, além da acusação mentirosa e exposição. Enfim, descobri que aquela aluninha de 8 anos queria ferrar com minha vida porque eu não a deixava fazer de tudo. Elas viajaram após o episódio, e eu nunca ouvi um pedido de desculpas. Mas aprendi que na vida, nem sempre você terá, mesmo quando não cometeu um erro.

 

Eu não nasci para ser professora porque por muito tempo eu deixei que as palavras negativas, a falta de valor dos próprios profissionais, pais despreocupados e alunos que desrespeitam me abalassem. Eu me sentia inferior por ser professora, acreditei que qualquer um poderia fazer meu trabalho, mas isso não é verdade.

 

Ser professora significa que você terá diversos desafios, mas que você fará parte da história de muitas pessoas, todos os seus alunos, independentemente da idade, levam os ensinamentos dos professores para a vida. Nós temos um grande poder em nossas mãos, e por isso, hoje eu tenho um enorme orgulho de fazer parte da educação, de contribuir com uma sociedade com indivíduos mais conscientes do seu papel, colaborativos, empáticos e dispostos a fazer um mundo melhor.

 

Bem, depois da experiência na escola privada, que recomendo também, eu fui para a Secretaria de Educação para trabalhar com Educação Especial e estou aqui desde então, passei por diversas escolas, o que foi ótimo para aprender a lidar com pessoas diferentes. E quando lembro de cada ano, tenho muitas memórias de aprendizado, porque ser professor indica que você é o primeiro a querer aprender mais.

 

Aliás, lembra da Pestalozzi? Trabalhei lá por 2 anos com música, foi um experiência maravilhosa, aprendi e me diverti muito com eles. Agradeço cada escola que me acolheu e me ajudou a ser quem eu sou, buscando a cada dia, ser uma professora mais capacitada para poder colaborar com mais alunos.