Resumo do livro “Ponha ordem no seu mundo interior” De Gordon Macdonald
Lido em dezembro de 2014
Colocar em ordem nossa vida pessoal nada mais é que convidar a Cristo para controlar todos os aspectos de nosso ser.
O NOSSO MUNDO INTERIOR PODE SER DIVIDIDO EM CINCO PARTES
A primeira diz respeito às nossas MOTIVAÇÕES DE VIDA, à força que nos leva a agir da maneira como agimos.
Jesus Cristo não pode realizar uma obra eficaz no mundo interior de pessoas que se regem por seus impulsos, ou seja, os impelidos (tanto para o bem quanto para o mal).
Existem muitos indícios que mostram que uma pessoa é do tipo impelida: Só se satisfazem ao ver o trabalho realizado (costuma não valorizar o processo), está sempre preocupada com os símbolos associados à ideia de realização (títulos e privilégios), se acha dominada por uma descontrolada busca da superação, possuem pouca ou nenhuma habilidade no trato com outros (consegue que o serviço seja feito, mas, no processo, destrói pessoas), se irritam com enorme facilidade e geralmente são indivíduos que estão sempre muito atarefados.
Dentre as pessoas da Bíblia, a que melhor tipifica o homem “impelido” é Saul, o primeiro rei de Israel. Diferentemente da história que acabamos de narrar, que teve uma conclusão favorável, este rei teve um fim horrível, pois nunca saiu de sua gaiola dourada. Continuou a acumular mais e mais tensões sobre si mesmo. E isso o destruiu.
Dá para notar que nestes últimos dez anos os indivíduos de nossa sociedade se acham sob um constante e destrutivo estado de stress, já que seu ritmo de vida é tão agitado que não lhes permite muito tempo para um repouso ou um descanso reparador.
Todos nós estamos cientes de que existe um tipo de stress que é benéfico, porque resulta em melhor desempenho por parte de atletas, artistas ou executivos. Mas grande parte do interesse dos estudiosos do assunto está voltada para os tipos de stress que reduzem a capacidade humana, e não dos que a melhoram.
Mas as pessoas que não agem por impulsos (impelidas), nós chamamos de chamadas, aqueles que possuem uma força que vem de dentro, possuem uma perseverança e poder, que oferecem resistência aos golpes externos. Elas sabem quem são (sua identidade) e o que é um compromisso firme.
Lembremos novamente os homens que Cristo escolheu; poucos deles poderiam candidatar-se a um alto cargo de uma organização religiosa ou de uma empresa. Não que fossem extremamente incapacitados; não. É que eram pessoas comuns. Mas Cristo os chamou; e isso muda tudo.
As pessoas “impelidas” consideram as coisas como sua propriedade; as “chamadas”, não. E quando um “impelido” perde alguma coisa isso gera uma grave crise. Mas quando é um “chamado” que perde, nada muda. Seu mundo interior continua o mesmo; talvez melhor.
João Batista é o protótipo da personalidade que estamos procurando, pois se conduz com muita segurança e firmeza em um mundo onde tudo parece caótico e em desordem.
O que motiva seus atos? Que razões o levam a agir como age? O que espera obter com seus atos? Qual seria sua reação se tudo lhe fosse tirado?
A segunda divisão de nosso mundo interior é a relacionada com o modo como gerimos O LIMITADO TEMPO de que dispomos. Pg 50
O mundo está cheio de pessoas desorganizadas, que perderam totalmente o controle do tempo.
Tenho certeza de que ninguém quer chegar ao fim da vida e, ao olhar para trás, sentir um profundo pesar por ter deixado de realizar coisas que poderia ter realizado. E para evitar que isso aconteça, precisamos aprender a manejar o tempo que Deus coloca em nossas mãos.
Uma das evidências de que estamos caminhando para a desorganização é o fato de nossa escrivaninha ficar com aparência de estar entulhada. Podemos dizer o mesmo com relação à cômoda. Aliás quase todas as superfícies horizontais que se acham ao nosso alcance ficam cheias de papéis, recados não atendidos, e serviços por terminar.
As pessoas desorganizadas raramente mantêm bom nível de comunhão com Deus. É verdade que elas têm intenção de buscar uma melhor comunhão, mas nunca conseguem estabelecer uma comunhão firme. E não é preciso que se lhes diga que têm de separar um momento para estudar e meditar na Bíblia, para interceder, e para louvar a Deus; já sabem disso muito bem. Simplesmente não o estão praticando. Desculpam-se dizendo que não têm tempo, mas bem lá no fundo sabem que o problema é mais uma questão de desorganização e falta de força de vontade, do que qualquer outra coisa.
Quando estamos levando uma vida desorganizada, nosso relacionamento com os familiares logo o revela. Passamos vários dias sem ter uma conversa séria ou mais profunda com os filhos. Temos contato com a esposa, mas nossa conversa é muito superficial, sem abrir o coração, sem palavras de conforto e aprovação. Às vezes tornamo-nos irritadiços, reagindo negativamente às tentativas dela de chamar nossa atenção para tarefas que não realizamos ou para as falhas que cometemos em relação a compromissos com outros.
Precisamos dar um jeito de eliminar esse horrível hábito da desorganização, senão nosso mundo interior logo entra numa desordem total. Temos que tomar a deliberação de assumir o controle de nosso tempo.
Quando o dinheiro é limitado, somos obrigados a planejar. E quando o tempo é limitado, o mesmo princípio deve ser aplicado. A pessoa desorganizada deve procurar ver as coisas pela perspectiva do planejamento. E isso significa fazer a distinção entre o que é obrigatório e o que é do gosto pessoal — entre o que se deve fazer, e o que se gosta de fazer.
Quando não controlo o tempo, posso deixar que as pessoas mais dominadoras do meu círculo de amizades assumam o controle dele. Quando eu era jovem, e iniciava meu ministério, percebi que, como não tinha um planejamento bem organizado, achava-me à mercê de qualquer pessoa que tivesse a ideia de fazer uma visita, ou me levar para tomar um cafezinho, ou que quisesse que eu fosse a uma reunião de comissão. E como eu poderia recusar se minha programação era toda desorganizada? Além disso, sendo jovem, queria agradar a todo mundo. Nem tudo que “grita mais alto” na verdade é a coisa mais importante.
Preciso aprender a identificar meu ritmo de eficiência, ou seja, o melhor dia ou momento para realizar tais atividades, como estudar, ler, fazer exercícios, sair com amigos…
Há momentos em que essa decisão é bastante difícil, simplesmente porque desejo a aprovação dos outros. Quando aprendemos a dizer “não” a coisas válidas, corremos o risco de fazer inimizades e atrair a crítica dos outros. E ninguém gosta disso. Então me é muito penoso dizer “não”. Já percebi que muitas das pessoas que exercem cargos de liderança lutam com esse mesmo problema. Mas se quisermos realmente ser donos de nosso tempo teremos que ser fortes e apresentar uma negativa firme, mas cortês, a atividades que talvez sejam boas, mas não a melhor.
Quais são as atividades de que você não pode abrir mão? Tenho percebido que muitas das pessoas que são desorganizadas nem sabem responder a essa pergunta.
Ter compromisso com Deus é um tipo de compromisso a que se possa faltar, quando se quer controlar o tempo, e mantê-lo sob controle. É o passo inicial de um dia bem organizado, de uma vida bem organizada, de um mundo interior em ordem.
A terceira parte é nossa MENTE (sabedoria e conhecimento), essa notável faceta de nosso ser, que pode receber e trabalhar as verdades sobre o universo. Pg 70
Tornar-se um pensador, utilizando o que sei para servir os outros.
Quando uma pessoa toma a firme deliberação de utilizar sua mente com o propósito de crescer e se desenvolver, seu mundo interior ganha uma nova ordem.
Nessa sociedade pressurizada em que vivemos, aqueles que não tiverem uma boa resistência mental geralmente serão vitimados por ideias e sistemas que são destrutivos para o espírito e para as relações humanas. Essas pessoas ficam prejudicadas porque não aprenderam a pensar, nem se empenharam no desenvolvimento de sua mente, que é uma tarefa para a vida toda. Sem as vantagens de uma mente forte, vão se tornando dependentes das ideias e opiniões de outros.
O suicídio em massa dos membros da Igreja do Povo, ocorrido na Guiana em 1978, é um triste exemplo de onde as pessoas podem chegar quando sua mente não tem resistência. Quando os membros daquele grupo começaram a deixar que Jim Jones pensasse por eles começaram a correr perigo.
É muito fácil deixar nossa mente se tornar apática, principalmente quando estamos cercados de pessoas de temperamento dominante, que querem pensar por nós.
Precisamos treinar nossa mente para pensar, analisar, criar. Quem possui um mundo interior bem ordenado, é porque se esforça para ser um pensador. Esse tem uma mente alerta, viva, e está sempre recebendo novos conhecimentos a cada dia, e regularmente faz novas descobertas, raciocina e chega a conclusões; são pessoas que exercitam a mente todos os dias.
Tenho visto muitas pessoas que parecem possuir um imenso volume de informações sobre a Bíblia comprimido na mente. Desenvolveram um rico vocabulário de perfeitos chavões evangélicos. As orações delas são tão fluentes que todos os que estão ao seu lado ficam estáticos. E pensamos que esses indivíduos são muito espirituais. Mas depois começamos a perceber que são rígidos e inflexíveis, totalmente fechados a mudanças e inovações. Se alguém levanta uma dúvida séria com relação ao seu modo de pensar, reagem com um acesso de cólera e acusações.
Inicialmente, a tarefa do primeiro homem e da primeira mulher era descobrir as coisas que Deus criara, e identificá-las. Mas como desobedeceram as leis de Deus, uma parte desse maravilhoso privilégio foi removida deles. Agora tinham que se preocupar mais com a sobrevivência em um mundo adverso, em vez de continuar a descobrir o que havia nele. Então, a natureza de seu trabalho mudou radicalmente. E estou certo de que nossa vida no céu deverá ser, de certo modo, uma recuperação dessa forma original do trabalho.
Pensar é um ótimo trabalho. Para realizá-lo bem temos que estar com a mente treinada e em forma, assim como um atleta só compete bem quando está bem treinado e com o corpo em forma. A melhor forma de pensamento é a que se desenvolve no contexto do respeito pelo reino e pela criação de Deus. É muito triste ver filósofos e artistas realizando grandes obras artísticas e intelectuais, mas sem o menor interesse em descobrir realidades acerca do Criador. O objetivo deles ao criar ou pensar é apenas seu engrandecimento próprio ou então o desenvolvimento de um sistema humano adotado por gente que acredita que pode viver bem sem Deus.
Primeiro objetivo: dirigir a mente para que passe a raciocinar dentro das linhas do pensamento cristão.O pensamento cristão encara todas as questões e ideias pelo ponto de vista da vontade de Deus e da glorificação do seu nome.
Segundo objetivo: treinar a mente para observar e apreciar as mensagens que Deus registrou na criação.O carpinteiro trabalha com a madeira; os médicos auscultam o corpo humano; os músicos fazem arranjos com os sons; os executivos dirigem o trabalho de diversas pessoas; o educador prepara os jovens; o pesquisador faz análises dos elementos do universo, inova-os e implementa-os.É para realizar essas tarefas que desenvolvemos nossa mente; e, enquanto as realizamos, alegramo-nos por tudo que Deus, em seu amor, vai nos revelando.
Terceiro objetivo: preparar a mente para estudar informações, ideias e verdades, com o objetivo de servir às pessoas que fazem parte do nosso mundo exterior.
Todos podem empregar a mente e o talento para auxiliar a outros.
Aprender a ouvir pode ser uma tarefa muito difícil para uma pessoa como eu, que gosta muito de falar. Mas quem não aprender a ouvir, estará cerrando sua mente para uma importante fonte de informações, pelas quais ela pode se desenvolver.
Talvez o primeiro passo para se aprender a ouvir seja aprender a fazer perguntas. Raramente encontramos pessoas com as quais não possamos aprender alguma coisa de valor; o mesmo se pode dizer das situações da vida. Em muitos casos, para chegar a ouvir, primeiro tenho que fazer perguntas. Para isso tive que aprender também a fazer perguntas. Sabendo perguntar, obtemos valiosas informações, que contribuem para o crescimento. Gosto de fazer perguntas sobre o trabalho que as pessoas realizam, onde conheceram o cônjuge, os livros que elas têm lido, o que consideram os maiores desafios da atualidade, em que situações Deus mais opera em suas vidas. Geralmente, as respostas que recebo são muito úteis.
Então é muito fácil fugir das atividades de rotina, dos serviços mais “sem graça”, para me dedicar apenas aos mais empolgantes que aparecerem. Mas o fato é que a maior parte de nossa vida é constituída de rotina.
Estudar é uma tarefa árdua, e que as interrupções, muitas vezes, perturbam a fluência do ritmo mental.
Aquele que deseja crescer tem que estar sempre fazendo anotações, ou durante os sermões, ou nas classes de estudo bíblico. É uma forma prática de o crente mostrar que crê que Deus lhe dará algum ensinamento que poderá ser útil para outros no futuro. Tomar nota é um bom modo de guardarmos as informações e revelações que estamos constantemente recebendo, e, assim fazendo, aproveitamos bem tudo de útil que nos aparece e pode contribuir para o nosso desenvolvimento intelectual.
O quarto setor de nossa VIDA INTERIOR (força espiritual), diria eu, é o espírito. Pg 91
Foi preciso ficar numa prisão, para descobrir como é vazia uma vida sem Deus.
Foi necessário que Rutledge sofresse as pressões de um campo de prisioneiros de guerra para que reconhecesse que havia em seu interior um setor central que ele negligenciara praticamente durante toda a vida. Eu chamo a esse setor de espírito; outros o chamam de alma.
Não é preciso estar sempre na igreja para se estar em comunhão com Deus. Podemos transformar nosso coração num pequeno templo, ao qual vamos nos recolher para ter uma suave, humilde e terna comunhão com ele. Todos podem ter essas conversas particulares com Deus. Alguns mais, outros menos — ele conhece nossa capacidade. Comecemos logo! Talvez ele só esteja esperando que tomemos essa decisão, de todo o nosso coração. Animo! Nosso tempo de vida é muito curto.
Regularmente precisamos afastar-nos um pouco da rotina da vida, para buscar a Deus em seu jardim interior. E eles nos revelaram que os cultos e as cerimônias religiosas não eram o lugar mais apropriado para isso. Cada crente teria que encontrar seu próprio santuário, suas águas tranquilas, seu jardim interior, diziam eles. Não havia outra alternativa.
O que será preciso para que comecemos a cultivar o jardim interior de nosso mundo particular? Será que precisaremos passar por grandes sofrimentos? Parece que é isso que a história está sempre revelando: as pessoas só buscam a Deus quando se acham sob grandes tensões, e não têm mais ninguém a quem recorrer. Os que se acham cercados de “bênçãos” tendem a se deixar levar pelas correntezas da vida. E é por isso que às vezes questiono a aplicação da palavra bênção a certas situações. É claro que algo que faz com que negligenciemos o cultivo de nosso jardim interior não pode ser de fato uma bênção.
Se meu mundo interior estiver em ordem será porque não tenho receio de ficar na presença de Cristo, sozinho, em silêncio.
Mantenha sua vida em ordem não apenas na dimensão pública; mas organizada também interiormente.
Para fortalecer o espírito: Mas selecionei quatro atos devocionais de importância fundamental que, pelo que tenho observado, muitos crentes estão negligenciando. São os seguintes: a busca do isolamento e silêncio(Nós também precisamos aprender a tornar nosso coração à prova de ruídos, para que os barulhos do mundo exterior não impeçam que ouçamos aquilo que Deus tem a nos dizer.); ouvir a voz de Deus regularmente (Não conheço muitas pessoas que sabem ouvir a Deus. E as mais ocupadas têm grande dificuldade em aprender essa arte. Embora a maioria dos crentes logo aprenda a conversar com Deus, o fato é que não aprende a ouvi-lo.); a experiência da reflexão e meditação (diário, internalizando o que foi aprendido); e a prática da oração, em louvor e intercessão.
Não foi fácil para mim conseguir silêncio e isolamento. Antigamente eu associava essas coisas a ociosidade, inatividade, e improdutividade. Assim que me encontrava a sós, minha mente era logo invadida por uma dezena de coisas que deveria fazer: telefonemas que precisava dar, documentos para arquivar, livros que planejava ler, sermões a serem preparados e pessoas que precisava visitar.
Aquele que quiser ter disciplina espiritual — que eu chamo de cultivar o jardim interior — terá que estar disposto a buscar o silêncio e o isolamento, e a procurar ouvir a voz de Deus.
A oração interior deve ser o último ato que praticamos antes de dormir, e o primeiro que fazemos ao despertar. Thomas Kelly
A adoração e a intercessão são praticamente uma confissão de fraqueza.
Uma outra razão pela qual as pessoas têm dificuldade em se dedicar à adoração e intercessão é que essas práticas, pela sua natureza, são confissões de fraqueza pessoal. Quando oramos, bem no fundo de nosso jardim interior estamos reconhecendo que somos totalmente dependentes daquele a quem dirigimos a petição.
Não é muito difícil dizer que somos fracos; e podemos até dizer que dependemos de Deus para o nosso sustento. Mas a verdade é que há algo bem lá no fundo de nosso ser que não deseja reconhecer isso. Existe algo em nosso coração que nega veementemente que sejamos dependentes de quem quer que seja.
O seu mundo interior só estará em ordem quando você estiver firmemente convencido de que o mundo interior, espiritual, deve reger o exterior, o da atividade.
Precisamos aprender a ver nossa existência em dois planos diversos.
O plano externo, ou público, é de controle mais fácil. É mais facilmente analisado, é visível, é ampliável. Esse mundo é constituído por nosso trabalho, posses, divertimentos e pelo grande número de conhecidos que compõem nossa rede social.
Mas nosso mundo interior é de natureza espiritual. É o centro onde se determinam as decisões e nosso sistema de valores; onde se pode buscar a reflexão e o isolamento. É o lugar onde adoramos a Deus e fazemos confissões; é um recanto tranquilo, onde não precisa penetrar a poluição moral e espiritual dos tempos.
Somos ingenuamente levados a crer que, quanto mais ativo o indivíduo é em sua vida pública, mais espiritual também. Achamos que quanto maior for uma igreja, maiores serão suas bênçãos celestiais também. Quanto maior for o volume de informações que um crente tiver sobre a Bíblia, pensamos, mais perto deve estar de Deus.
E como pensamos dessa maneira, somos tentados a dar uma atenção excessiva a nossa vida exterior, às custas da interior. E é mais programações, mais reuniões, mais experiências de aprendizado, mais pessoas com as quais queremos nos relacionar, mais atividades, até que o peso vai-se tornando tão grande que a estrutura toda começa a oscilar, e ameaça desmoronar. E é assim que começa a pairar sobre o indivíduo a sombra da fadiga, das frustrações, fracasso, derrota. O mundo interior, que foi negligenciado, não está mais suportando todo aquele peso.
Por último, existe em nosso interior uma parte que nos leva a buscar o DESCANSO, a paz do sabá*. Essa paz é bastante distinta da que se vê nos divertimentos do mundo que nos cerca.
Aquele que separa um dia para descansar, e o faz com regularidade, tem mais probabilidade de manter a perspectiva correta da vida, e poupar-se de sérios danos como o de “queimar-se” ou sofrer um esgotamento.
Tenho a impressão de que somos uma geração cansada. A prova de que existe uma fadiga geral é o grande número de artigos acerca de problemas de saúde relacionados ao excesso de trabalho e exaustão. O vício do trabalho é uma expressão atual. Parece que, por mais que nos esforcemos para trabalhar, nesse nosso mundo tão competitivo, sempre há alguém disposto a dar algumas horas a mais de serviço.
Existe uma definição de descanso que precisamos descobrir e estudar — o sentido bíblico de descanso. Aliás, a Bíblia revela que Deus foi o primeiro que descansou. “E havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou…” E no livro de Êxodo, Moisés faz um comentário ainda mais claro a esse respeito. Diz ele: “… porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou e tomou alento.” A tradução literal dessa última expressão seria: “E se alentou.”
Será que Deus realmente precisa descansar? Claro que não! Mas ele tomou a decisão de descansar? Tomou. Por quê? Porque ele estabeleceu um ritmo para a criação que consistia de descanso e trabalho, e revelou isso quando ele próprio observou o princípio, dando assim um exemplo para todos. Desse modo ele revelou-nos um dos segredos básicos para termos ordem em nosso mundo interior.
Esse descanso não deveria ser considerado um luxo, mas, sim, uma necessidade para todos que desejam se desenvolver e alcançar maturidade. Como não compreendemos que isso é uma necessidade, acabamos pervertendo seu significado original e colocando no lugar desse descanso — do qual Deus deu o primeiro exemplo — coisas tais como lazer e divertimentos. Mas elas não servem para pôr em ordem o nosso mundo interior. Podem até serem práticas agradáveis, mas, na verdade, são para o mundo interior de uma pessoa o mesmo que algodão doce é para o seu estômago. Elas nos proporcionam um momentâneo soerguimento emocional, mas não duram.
Não quero dizer com isso que não goste da ideia de se buscar momentos de diversão, alegria, recreação. O que estou dizendo é que essas coisas, por si só, não oferecem à alma o refrigério de que ela necessita. Embora proporcionem um momentâneo descanso ao corpo, não satisfazem a profunda necessidade de descanso que há em nosso mundo interior.
O descanso que Deus instituiu tinha por objetivo, em primeiro lugar, levar-nos a uma avaliação de nosso trabalho, para buscar um sentido para ele, para sabermos a quem ele realmente é dedicado.
O hábito de trabalhar sem descanso produz uma personalidade desinquieta. Quem trabalha incessantemente, sem fazer uma parada verdadeira para buscar o sentido e o propósito daquilo que faz, pode aumentar bem sua conta bancária e melhorar sua reputação profissional. Mas seu mundo interior perde toda a vitalidade e alegria. Como é importante dar uma parada regularmente.
Descansamos de verdade quando fazemos uma pausa em nossas tarefas rotineiras para fazer um levantamento das verdades e propósitos pelos quais estamos vivendo.
Acredito que o descanso sabático consiste nessa parada de um dia na semana. Mas na verdade ele pode ocorrer a qualquer momento, em pequena ou larga escala, se decidirmos separar uma hora ou mais para buscarmos uma comunhão íntima com Deus.
A maioria das pessoas vê o descanso como algo que vem depois do trabalho encerrado. Mas o sabá não é necessariamente algo que vem depois; aliás, pode ocorrer antes. Se pensarmos que o descanso só pode ocorrer depois que o trabalho é encerrado, então algumas pessoas vão encontrar dificuldades aí, pois seu trabalho nunca acaba. E em parte essa é a razão por que alguns indivíduos nunca descansam. É que seu trabalho nunca termina, e assim não pensam em separar um período de tempo para buscar a paz e o revigoramento sabático.
Eu tive que me esforçar para não ter sentimento de culpa ao parar tudo para descansar. Tive que entender que não era errado pôr o trabalho de lado, com o objetivo de desfrutar daquele período de repouso, que é uma dádiva de Deus para nós.
Em suma, queremos colocar nosso mundo interior em ordem tornando-nos mais ativos exteriormente. Mas isso é exatamente o contrário do que a Bíblia ensina, do que os grandes homens de Deus nos têm mostrado, e do que nós mesmos reconhecemos, ao ver o fracasso de nossa experiência espiritual.
O nosso trabalho também será influenciado por nossa permanência nesse lugar. Ali ele ganhará novo sentido e melhor nível de qualidade. Integridade e honestidade serão nosso alvo. Perderemos o temor e ganharemos um espírito mais compassivo.
Outros pontos importantes:
Se meu mundo interior estiver em ordem, será porque tomo diariamente a decisão de estar atento a isso.
Todos nós já passamos por experiências ruins, sofrendo pressões do mundo exterior, afligindo-nos a tal ponto que achávamos que estávamos prestes a morrer. Nessas horas, começamos a nos indagar sobre nossas reservas de energia — se temos condições ou não de continuar resistindo, se vale a pena continuar em frente, se já não seria hora de abandonar tudo e fugir. Em suma, não temos mais certeza se possuímos ou não forças espirituais, psíquicas e físicas para seguir no mesmo ritmo que tentamos manter no momento.
Por que será que muitas pessoas acham que a solução das pressões e tensões é protestar com mais vigor, correr ainda mais depressa, acumular mais bens, recolher mais informações, tornar-se mais perito em tudo, e, não, simplesmente verificar como está seu mundo interior?
Tudo funciona melhor de dentro para fora, do mundo interior para o exterior.
Será que vamos pôr ordem no nosso mundo interior para que ele possa exercer influência sobre o exterior. Ou vamos negligenciar nossa vida interior, e dessa forma permitir que o exterior comande tudo? É outra decisão que temos de tomar diariamente.
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Pv 4.23) Mas o que significa “guardar” o coração? Primeiro, o escritor mostra claramente sua preocupação em que o coração seja protegido de influências externas que possam prejudicá-lo.
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