O sofrimento nunca é em vão de Elisabeth Elliot
Lido em julho de 2022

Capítulo 1 • A Terrível Verdade

O sofrimento é um mistério que nenhuma de nós tem, de fato, a capacidade de perscrutar.

Algumas situações difíceis têm ocorrido na minha vida, é claro, assim como na sua; e eu não posso lhe dizer: “Sei exatamente aquilo pelo qual você está passando”. Mas posso afirmar: conheço aquele que sabe . E cheguei à conclusão de que foi por meio do sofrimento mais intenso que Deus me ensinou as lições mais profundas.

Estou convencida de que há um bom número de coisas nesta vida sobre as quais nada podemos fazer, mas com as quais Deus deseja que façamos algo.

“Sofrimento é ter o que você não deseja, ou desejar o que você não tem”.

 Você consegue imaginar um mundo, por exemplo, no qual ninguém tem nada indesejável — sem dor de dente, sem impostos, sem parentes complicados, sem engarrafamentos? Ou, em contraste, você consegue imaginar um mundo no qual todos têm tudo o que desejam — clima perfeito, esposa perfeita, marido perfeito, saúde perfeita, notas perfeitas, felicidade perfeita? Malcolm Muggeridge disse: “Se, por acaso, você eliminasse o sofrimento, o mundo seria um lugar terrível, pois tudo aquilo que corrige a tendência humana de se sentir importante demais, de se gabar em excesso, desapareceria. O homem já é mau o bastante agora, mas seria absolutamente intolerável se nunca sofresse”.

 As maiores dádivas da minha vida também acarretaram os maiores sofrimentos. As maiores dádivas da minha vida, por exemplo, têm sido o casamento e a maternidade. Não podemos jamais esquecer que, se quisermos evitar o sofrimento, devemos ter o cuidado de nunca amar nada nem ninguém. As dádivas de amor têm sido dádivas de sofrimento. Essas duas coisas são inseparáveis.

 Do lado de cá do paraíso, não há satisfação intelectual para a velha pergunta: por quê? Porém, embora eu não tenha encontrado satisfação intelectual, encontrei paz. A resposta que lhe dou não é uma explicação, mas uma pessoa, Jesus Cristo, meu Senhor e meu Deus. Como compartilhei no início deste capítulo, ao perceber que meu marido estava desaparecido (e ao ficar mais cinco dias sem saber que ele estava morto), as palavras que Deus me trouxe naquele momento foram de Isaías 43: “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor, teu Deus” (Is 43.2 – 3a).

Janet Erskine Stuart disse: “Alegria não é ausência de sofrimento, mas a presença de Deus”.

 De onde vem essa ideia de um Deus amoroso? Não é uma dedução. Não é o homem desesperado em busca de um deus, a ponto de fabricá-lo em sua mente. É o Verbo, aquele que era antes da fundação do mundo, sofrendo como um cordeiro imolado. E ele guarda na manga cartas das quais eu e você não fazemos a menor ideia agora. Ele nos disse o suficiente para sabermos que o sofrimento nunca é em vão. O sofrimento foi um meio insubstituível pelo qual aprendi uma verdade indispensável.

Capítulo 2 • A Mensagem

Vejo o sofrimento como uma das maneiras pelas quais Deus atrai nossa atenção.

 O livro mais antigo da Bíblia é o livro de Jó. De todos os livros da Bíblia, é esse que lida de modo mais específico e direto com o tema do sofrimento. Você deve se lembrar de que Jó foi tido como um homem irrepreensível, um homem justo. O próprio Deus disse que Jó era irrepreensível. Isso é importante porque, segundo a moral popular daqueles dias, pensava – se que um homem bom deveria ser abençoado e um homem mau, castigado . . . Então, a experiência de Jó parecia virar aquela ideia totalmente de cabeça para baixo. Jó perdeu tudo. Seus dez filhos foram mortos numa tempestade de vento. Seu vasto número de animais morreu. Sua casa foi essencialmente destruída. Esse homem, antes estimado, rico em todos os sentidos, ficou sem nada do que poderia significar riqueza e bênção. Contudo, a destruição não cessou aí. Seu corpo físico também sofreu com chagas terríveis e ficou desfigurado de tal maneira que Jó se tornou irreconhecível a alguns de seus amigos mais próximos. Tudo isso se passou sem que Jó soubesse o porquê.

E essa é a lição que cada uma de nós recebe em algum ponto de nossa vida. Estou certa de que cada uma de nós, mais cedo ou mais tarde, tem de encarar esta dolorosa pergunta: Por quê? E Deus está dizendo: “Confie em mim”. Se não há respostas às suas orações como você acha que elas deveriam ser, o que acontece com sua fé? O mundo diz: “Deus não ama você”. As Escrituras me dizem algo bem diferente. Aqueles “bem-aventurados” nas Bem – aventuranças.

Se aprendermos a conhecer Deus em meio à nossa dor, passaremos a conhecê-lo como aquele que não é um Sumo Sacerdote incapaz de se compadecer diante do sentimento de nossas fraquezas. Ele é alguém que caminhou cada centímetro da estrada.

Ele vem a você e a mim em nossa tristeza. E ele diz: “Confia em mim. Anda na minha presença”.

Capítulo 3 • Aceitação

Creio que a aceitação é a chave para a paz nesse assunto do sofrimento.

A cruz é a melhor coisa que já aconteceu na história humana, e é também a pior. Aqui, no seu amor, a Escritura nos diz. Não que tenhamos amado a Deus aqui no seu amor, não que nós tenhamos amado a Deus, mas ele nos amou e a si mesmo se entregou, Cristo entregou a sua vida por nós. Quando falamos do amor da forma como a Bíblia fala do amor, não estamos tratando de um sentimento tolo. Não estamos falando de uma emoção, de uma disposição de humor ou de uma paixão. O amor de Deus não é um sentimento.

O amor está sempre indissociavelmente ligado ao sofrimento. Qualquer pai sabe disso. Qualquer mãe sabe disso.

Deus é Deus. Deus é um só Deus em três pessoas. Ele nos ama. Não estamos à deriva, numa espécie de caos. Para mim, não há nada que me dê mais força, mais estabilidade e mais paz, de tudo o que conheço no universo.

Embora pensemos que a situação seja pior do que de fato é, nunca conseguimos enxergar o modo como a graça de Deus opera na pessoa que dela necessita.

 É correto e apropriado trazermos essas petições a Deus. Não estamos orando contra a vontade dele. Mas, quando a resposta é não, então nós sabemos que Deus tem preparado algo melhor. Algo muito melhor está preparado. Há outro nível, outro reino, um reino invisível que você e eu não podemos ver agora, mas em cuja direção nos movemos e ao qual nós pertencemos.

 Quando a resposta é não, então nós sabemos que Deus tem preparado algo melhor. Algo muito melhor está preparado. Há um outro nível, outro reino, um reino invisível que você e eu não podemos ver agora, mas em cuja direção nos movemos e ao qual nós pertencemos.

 Preciso de momentos de dor porque Deus tem algo mais grandioso em mente. Nunca é em vão. E por isso eu digo: “Senhor, em nome de Jesus, por tua graça eu os aceito”.

Capítulo 4 • Gratidão

Duas coisas que certamente devem distinguir você, a mim e todos aqueles que se dizem cristãos são a aceitação e a gratidão. E é muito difícil estabelecer uma distinção clara entre ambas. Se podemos aceitar uma dádiva, então podemos agradecer por ela.

 Paulo diz que em tudo devemos dar graças. Não são as experiências de nossa vida que nos transformam. É a nossa reação a tais experiências. 1 E essa deveria ser uma distinção muito notável entre o cristão e o não cristão.

 Penso que podemos dividir o mundo em duas categorias: as pessoas que cultivam o hábito de reclamar de tudo o que recebem ou não recebem; e aquelas que cultivam o hábito de dizer “Obrigada, Senhor ” por tudo aquilo que recebem ou não recebem.

 É muito bom fazer profissões maravilhosas de fé em Cristo, orar, ler, cantar hinos, ir à igreja e fazer isto, aquilo e aquilo outro. Mas, quando a coisa fica séria, que diferença isso faz?

 Há um bom número de caminhos sinuosos para aprender a conhecer a Deus. Mas também há alguns atalhos. E eu quero sugerir aqui que a gratidão é um desses atalhos. Apenas comece a agradecer a Deus antecipadamente, pois, não importa o que esteja prestes a acontecer, você já sabe que Deus está no comando. Você não está à deriva num mar de caos.

Em que ferida Jesus está pondo o dedo hoje? Talvez seja uma oração não atendida, com a qual você tem batido à porta de Deus por anos a fio, e simplesmente parece que ele não está prestando atenção em você. Talvez seja algum ressentimento profundo em seu coração, pelo fato de alguém tê-la machucado, de alguém ter – lhe feito algo que, humanamente falando, é imperdoável. Perdão é para delitos reais. Não é como pedir desculpa quando você pisa no pé de alguém por acidente. “Desculpe – me” é uma coisa. Mas “Perdoe – me” é para delitos reais.

Precisamente nessas situações tão dolorosas — ter o que você não deseja, desejar de todo o seu coração algo que você não tem — que a ação de graças pode preparar o caminho para Deus nos mostrar sua salvação.

Capítulo 5 • Oferta

O padrão de um cristão é Jesus. O que ele fez? Ele ofereceu a si mesmo, um sacrifício perfeito e completo, pelo amor de Deus. E você e eu devemos estar preparadas para também sermos pão partido e vinho derramado pela vida do mundo. Pense nos dons de outros que você conhece e que têm sido uma grande bênção e alegria para você.

Penso se eu apresento a Deus meu corpo por sacrifício vivo, então isso inclui tudo o que o corpo contém — meu cérebro, minha personalidade, meu coração, minhas emoções, minha vontad , meu temperamento, meus preconceitos, minhas falhas e todo o resto —, tudo é apresentado a Deus como sacrifício vivo.

Sabe, costumamos ter uma ideia muito distorcida da palavra ministério. Pensamos que um ministério significa apenas uma lista bem curta de atividades: pregar, cantar, fazer um seminário, escrever um livro, ensinar numa classe de escola dominical. É claro que isso é ministério. São formas de serviço. Mas a palavra ministério apenas significa serviço. E serviço é uma parte de nossa oferta a Deus. As pessoas pensariam em meu ministério como meu trabalho missionário, meus escritos, minhas palestras. Mas, sabe, eu não passo a maior parte da vida de pé numa tribuna. Passo a maior parte da vida sentada a uma escrivaninha, de pé na pia, em frente a uma tábua de passar, indo ao mercado, sentada em aeroportos, fazendo um monte de coisas pelas quais não espero ganhar medalha alguma — momentos para serem oferecidos a Jesus. Faça a próxima coisa.

Permita – me perguntar a você: quem são as pessoas que tiveram a mais profunda influência em sua vida? Aqueles que mais profundamente influenciaram minha vida são, sem exceção, pessoas que sofreram, pois foi precisamente em seu sofrimento que Deus refinou o ouro, temperou o aço, moldou o vaso, partiu o pão e fez daquela pessoa algo para alimentar uma multidão — do que eu tenho sido uma dentre os beneficiários.

Descobri que não existe consolo algum que se equipare à obediência.

Capítulo 6 • Transfiguração

Se sua fé repousa na ideia de como Deus deveria responder às suas orações, em sua ideia do céu na terra, em sua utopia, ou seja, lá o que for, então esse tipo de fé será muito instável e está fadada a ser derrubada quando as tempestades da vida a atingirem. Mas, se sua fé repousa no caráter daquele que é o eterno Eu Sou, então é uma fé robusta e vai perdurar.

O primeiro princípio é aquele da cruz: a vida vem por meio da morte. Trago a Deus minhas tristezas e ele me dá sua alegria. Trago – lhe minhas perdas e ele me dá seu ganho. Trago – lhe meus pecados e ele me dá sua justiça. Trago – lhe minhas mortes e ele me dá sua vida. Mas a única razão pela qual ele pode me dar sua vida é porque me deu sua morte.

Penso nas palavras que meu primeiro marido, Jim Elliot, escreveu quando tinha 22 anos. “Não é tolo quem entrega o que não pode reter para ganhar o que não pode perder”. Ele estava parafraseando as palavras de Jesus: “Se você perder a sua vida por minha causa, você a encontrará” (Mt 10.39, paráfrase da autora). Ele troca as minhas fraquezas, minhas perdas, meus pecados, minhas tristezas, meus sofrimentos. Quando oferecemos tudo isso a ele, ele tem para nos dar em troca algo que pode alimentar uma multidão.

Tudo aquilo que você e eu comemos significa que algo, de algum modo, morreu. Até um ovo, um copo de leite, a galinha e a vaca não morreram, mas deram sua vida, não foi? E praticamente tudo o mais à mesa nos ensina que algo morreu, tanto grãos de cereais como animais. Assim, a vida vem da morte. É o princípio do universo, o princípio da troca. Até mesmo as estrelas morrem.

Não há, de fato, nenhuma obra redentora que jamais tenha sido realizada sem sofrimento.

sarahjsena

sarahjsena

Pedagoga e mestre em psicopedagogia pela Espanha, tem experiência há 10 anos com atendimentos individualizados com crianças, atuei na Secretaria de Educação há 7 anos com pessoas com deficiência.

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